Conheça a Civi-co, polo de impacto social de SP

Imagine um lugar que pulsa causa, impactos sociais, tecnologias, escala, negócios e desejo de criar soluções rentáveis para antigos problemas sociais ainda não resolvidos. Encontrei tudo isso no Civi-co, um polo de impacto social que reúne aproximadamente 50 empreendedores sociais de diversas causas em São Paulo.

A visita ocorreu neste mês, por causa do convênio estabelecido entre a CAUSE – Incubadora de Inovação Social do Inovaparq e o Civi-co. A iniciativa visa gerar trocas de experiências e incentivar investimentos entre empreendedores sociais, investidores da capital paulistana e empresas que fazem parte da CAUSE, como é o caso da OMUNGA.

As primeiras experiências

Durante a visita, as primeiras trocas aconteceram na gravação do programa de entrevistas da plataforma de notícias inspiradoras Muda Tudo e envolveram três pessoas fantásticas: Adriana Barbosa, do Instituto Feira Preta – que faz parte da lista dos 51 negros com menos de 40 anos mais influentes do mundo em 2017 –, Samuel Emilio, idealizador do Movimento Acredito, e a jornalista Ana Luiza, apresentadora do programa.

Os três travaram uma conversa pra lá de esclarecedora sobre como o segundo país do mundo com o maior percentual de população negra trata a “maioria” como “minoria”. E, nesse primeiro diálogo, percebi que as conversas seriam intensas.

Setor está cada vez mais sólido no mercado

Considerando o atual momento da OMUNGA, que estuda novos modelos de negócios (projetos incentivados por leis de dedução fiscal e tipos de recorrência financeira), procurei criar diálogos com representantes de empresas que tivessem relação com nossas novas ideias, como a TrackMob (plataforma para engajar doadores), A Taba (rede de leitura), Nexo e Prosa (que atuam com investimentos sociais). Com isso, foi possível perceber como o setor de negócios sociais está cada vez mais sólido e longe da filantropia tradicional.

Também observei como o segmento passa a ocupar um lugar de destaque nas resoluções de desafios que o poder público, a iniciativa privada, os cidadãos comuns e as organizações sociais não conseguiram resolver sozinhos até agora. Essa evidência ocorre por causa de uma nova forma de entender as problemáticas sociais, aliando a inovação, estratégia e competência na hora da execução.

No segundo dia, nos diálogos com a Quintessa Aceleradora, Átina Educação, Co-mo-ver, Bemtevi Negócios Sociais, RedeDots e com o próprio fundador da Civi-co, Ricardo Podval, fui fortalecido ao constatar o potencial de crescimento e faturamento do setor, lembrando de uma frase que li em algum artigo da ARTEMISIA: Entre ganhar dinheiro e salvar o mundo, fique com os dois.

Três homens sentados em uma escadaria com o fundo grafitado posando para foto com as mãos junta em frente do corpo

Inclusive, falando em potencial econômico, vale ressaltar que a projeção de faturamento do setor deve chegar em torno de R$ 50 bilhões em 2020, segundo a Pipe/2017 – instituição que também faz parte da Civi-co.

Grandes impactos dependem de atitude

Depois de todas as conversas e experiências, no caminho de regresso a Joinville, refleti sobre as seguintes questões:

Diversidade de causas

Considerando o contexto social do Brasil, não faltam causas para serem transformadas em negócios sociais. Aliás, muitas, centenas, talvez milhares já foram. E o fantástico disso é potencializar carreiras profissionais com mais sentido, propósito, que sejam mais colaborativas e, ainda, que ajudem pessoas.

Times

Equipes reduzidas causando grandes impactos. Certamente, parcerias e tecnologia são bons aliados, mas ter competências técnicas e noção de direção faz com que o time esteja 100% alinhado e caminhando de forma segura sem perceber que estão “trabalhando”, mas, sim, lutando por uma causa, por uma sociedade mais justa.

Resultados e pensar grande

As coisas não saem do papel se não for para ter lucro, e entenda-se lucro como resultados econômicos para gerar impactos sociais positivos e arcar com a operação. Só porque um negócio social visa ajudar as pessoas, não quer dizer que seja um bom “negócio”. Ouvi mais de uma vez: Quem paga essa conta e como essa ideia será sustentada?

E, também, nunca deixar de pensar grande. Ao conversar com um dos sócios da Nexo Negócios Sociais sobre um novo projeto da OMUNGA que deverá ser viabilizado via Lei Rouanet, no valor aproximado de R$ 400 mil, ouvi o seguinte: “Pascoal, captar R$ 400 mil e R$ 4 milhões é o mesmo trabalho. Se você acredita que com R$ 4 milhões ajudará mais pessoas, por que não cria um potencial maior de impacto?”

Mensuração de resultados

Além de o projeto ajudar a melhorar a vida das pessoas e de ser viabilizado economicamente, é necessário medir os benefícios criados pelo negócio. Quantas pessoas vivem em determinada situação? Quantos poderemos atender? Por que se acredita que esse produto ou serviço fará sentido para essas pessoas? Como fazer com que elas se tornem autônomas? Como fazer isso em larga escala? Como justificar que a ideia é realmente funcional? Mais uma vez, apenas boas intenções não são o suficiente. Como mensurar o impacto social?

Roberto Pascoal, empreendedor social e mentor da Omunga, em frente da civi-co, polo de impacto social de São Paulo

Por fim, muitas conexões. Pessoas que conhecem outras pessoas e que dão outro sentido ao fazer uma ponte. Afinal, não se trata de interesses individuais. Existe uma motivação maior que faz alguém dizer “preciso te apresentar uma pessoa”. Essas conexões somadas com todos os outros pontos mencionados fazem parecer que, aqui na Civi-co, podemos fazer cinco anos em um, o que é o objetivo de qualquer aceleradora ou startup.

Com tudo isso, percebi que fazer parte da CAUSE – Incubadora de Negócios Sociais do Inovaparq cria muita sinergia com empreendedores sociais de Joinville, mas é fato que o setor em São Paulo está muito à frente do que observamos em nossa cidade ou em Santa Catarina.

Por isso, acredito que esse tipo de conexão nos faça cada vez mais corajosos, disruptivos e inspiradores. Assim,  uma nova legião de empreendedores sociais possa surgir e diminuir as gritantes desigualdades do nosso país.

Roberto Pascoal
Empreendedor Social e presidente do Instituto OMUNGA
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