Expedição OMUNGA em Uiramutã: aprendizados e reflexões sobre a educação em Roraima

Retomar as Expedições OMUNGA, com a viagem à Roraima, nos faz sentir mais vivos e conectados com o propósito de levar mais educação para regiões distantes ou isoladas, onde poucas ou nenhuma organização social atua. Estar em campo nos aproxima da causa, nos deixa mais sensíveis e empáticos às pessoas que denominamos como “beneficiados”.

Com a conexão das últimas expedições, tenho me questionado muito sobre essa denominação, pois creio que todos nós somos beneficiados quando vivenciamos trocas humanas sinceras e de aprendizagem mútua. Também sentimos que os assinantes, doadores e parceiros potencializam um senso maior de pertencimento à causa e, por fim, podem visualizar a ação para a qual contribuem e sua importância para tantas pessoas.

 

Professores distribuem atividades escolares nas comunidades mais distantes de Uiramutã. Foto: Acervo OMUNGA

 

A segunda expedição à Uiramutã, realizada entre os dias 14 e 24 de março, foi muito pautada por essa vontade de encontro e de troca, além de fomentar vivências, dados e articulações para finalizar a elaboração de nosso quarto projeto: OMUNGA no Monte Roraima.

Assim, foram dois dias e meio de deslocamento para ir e três dias para voltar por conta das escalas aeroportuárias, além de trajetos de carro e ônibus. Durante a permanência de seis dias em Uiramutã, foram realizadas onze reuniões de articulações, contrapartidas, levantamento de dados educacionais e orçamentos com possíveis prestadores de serviços.

 

Cidade fica no extremo Norte do Brasil, na fronteira com Guiana e Venezuela. Foto: Acervo OMUNGA

 

Também foram visitados três polos educacionais, dos seis que a cidade possui: Água Fria, Monte Moriá II e Sede Municipal. Os demais polos, que ainda não visitamos, são Flexal, Voo e Ticoça. Das 60 escolas municipais, foram visitadas dez. Além disso, tive a oportunidade de ser recebido por pelo menos 12 famílias em suas residências.

Sem dúvida, é uma grande ousadia desbravar regiões dessa natureza, promovendo expectativas, criando vínculos, e tendo como base o que existe de mais precioso na OMUNGA: o sonho de milhares de crianças e de centenas de professores de Uiramutã.

 

Acolhimento fortalece projeto da OMUNGA em Uiramutã

 

Cerca de 2 mil crianças devem ser atendidas em Uiramutã. Foto: Acervo OMUNGA

 

No entanto, o acolhimento que vivenciamos na cidade fortaleceram a nossa missão e propósito. A forma como prefeito, vice-prefeito, secretários de educação, meio ambiente, turismo, coordenadores pedagógicos, professores, tantas famílias e, principalmente, as crianças, nos motivaram e incentivaram e indicam para a realização de um projeto que, agora, é de todos.

Isso fez com que a ousadia com o novo projeto fosse diminuída, criando um fluxo natural e perfeitamente viável.

As mensagens que recebemos de tantas pessoas que nos apoiam também nos fortalecem. Acima disso, fazem com que os dias de tensões e desafios – que também fazem parte do nosso dia a dia durante as expedições – (mas nem sempre são publicadas), se transformem em sentimentos de gratidão, contentamento e felicidade.

 

Roberto Pascoal durante visita a Comunidade Água Fria, em Uiramutã. Foto: Acervo OMUNGA

Desafios para superar a desigualdade social

 

Percebemos muitos desafios a serem superados em Uiramutã, principalmente no âmbito da desigualdade social. Estes desafios vão além de vivências em cidades como conhecemos, onde a infraestrutura chega com facilidade.

Por exemplo, impressionou-me a dificuldade de acesso para chegar à cidade, a distância ou isolamento que vivem algumas famílias, a precariedade de determinadas residências e a vulnerabilidade econômica.

 

Chuvas prejudicam sinal de internet em Uiramutã. Foto: Acervo OMUNGA

 

O acesso a meios de comunicação é frágil. Qualquer chuva pode limitar totalmente a comunicação via internet, presente somente no pequeno centro urbano central, a sede do município. O acesso aos serviços de saúde também é limitado. Para se ter ideia, não existe ainda farmácias na cidade.

É claro que uma cidade que é composta por etnias indígenas (90%), possui características próprias. Cada povo originário possui seu estilo de vida e cultura, que devem ser preservados.

No entanto, é necessário garantir direitos básicos, tais como saúde, educação e segurança, tanto para as comunidades indígenas como para os “karaiwás”, que quer dizer, em Macuxi, “pessoas sem etnias”, incluindo nossas crianças.

 

Cerca de 90% da população de Uiramutã pertence a alguma etnia indígena. Foto: Acervo OMUNGA.

A educação é o instrumento para mudar o mundo

 

Por fim, acredito cada vez mais na importância do setor de negócios de impacto social e, como consequência, em iniciativas como as que a OMUNGA promove. É notório que “desde sempre”, o setor público, privado e as organizações sociais tradicionais não deram conta de toda demanda gerada no mundo, consequência do desenvolvimento “humano”.

 

Alex é professor na rede municipal de Uiramutã. Foto: Acervo OMUNGA

 

Infelizmente, vivemos em um mundo que necessita de mais ações práticas, claras e concretas para que a qualidade de vida das TODAS as pessoas, se torne prioridade. Entretanto, apesar de estarmos diante de problemas estruturais e estruturantes, acreditamos que podemos fazer algo para melhorar a qualidade de vida e construir um mundo melhor, especialmente de crianças e professores que vivem nas regiões onde a OMUNGA atua.

Ao participarmos ativamente da promoção de uma sociedade mais igualitária, com mais acesso à educação para todos, acreditamos que podemos ajudar a lapidar mais oportunidades. Desta forma, estaremos proporcionando a construção de uma vida com liberdade, autonomia e poder de escolha e beneficiando milhares de crianças e centenas de professores do Brasil e do mundo.

Me sinto profundamente grato e horado por ter condições de representar tantas pessoas que compactuam da mesma #omungasoul e, por este motivo, investem tanto em nossos projetos!

 

Nos sentimos honrados por conhecer e aprender com uma comunidade escolar tão apaixonada. Foto: Acervo OMUNGA

 

E mais honrado ainda, por conhecer e aprender com uma comunidade escolar tão apaixonada, envolvida e entregue a uma missão que vai muito além de um profissão. Os professores de Uiramutã que eu conheci, me fortaleceram de coragem, determinação e muito amor ao que escolhi como propósito de vida.

Em cada km rodado, em cada caminhada entre lamas, ao atravessar cada igarapé e em cada casa em que entregamos exercícios pedagógicos, percebi que aqueles são professores, são muito além de educadores, são “defensores da vida”, são realmente, heróis.

MUITO OBRIGADO, MESMO E SEMPRE!

Com respeito e gratidão,
Roberto Pascoal
Empreendedor Social e Fundador da OMUNGA Grife Social e Instituto