Expedição do Projeto OMUNGA no Monte Roraima | Mai/23
Finalizado o Projeto OMUNGA no Monte Roraima, aprovado pela Secretaria Especial da Cultura para captação de recursos via Lei de Incentivo à Cultura, iniciamos o processo de captação e voltamos a Uiramutã, cidade atendida pelo projeto.
O objetivo da Expedição OMUNGA foi iniciar as articulações para o início da execução do projeto, previsto para o segundo semestre de 2023.
O principal encontro foi com a Vanderlane Lima, atual Secretária Municipal de Educação onde foram abordadas as temáticas dos encontros de desenvolvimento de professores, os momentos de escuta do time da OMUNGA com educadores e coordenadores pedagógicos da cidade, os locais para realização dos trabalhos (hotéis/pousadas, restaurante, escolas, espaços multiusos etc.) e a entrega a 200 livros de literatura infantil para duas comunidades escolares da cidade.
Nesta Expedição OMUNGA, Roberto Pascoal, empreendedor social, fundador e presidente da OMUNGA, viajou sozinho e chegou em Uiramutã após três dias de viagem com carros, avião e ônibus, e chegou ao destino no dia 08 de maio.
Após uma noite de descanso, já na manhã do dia seguinte, houve uma reunião com a Secretária que foi muito positiva, como já se esperava. A internet no centro urbano de Uiramutã possibilita uma razoável comunicação. Assim, muitas questões já haviam sido antecipadas com a Secretária e seu time.
Do Termo de Cooperação não houve nenhum questionamento ou dúvida e as contrapartidas foram acordadas com êxito. Os conteúdos estavam em sinergia, sabendo que muitos pontos deveriam ser complementados após momentos de escutas com professores e coordenadores pedagógicos da cidade.
O ponto que faltou ser definido foi o calendário de atividades, pois ainda é necessário confirmar a disponibilidade de calendários dos povos originários.
Importante lembrar que em torno de 90% da população de Uiramutã é formada pelas etnias Macuxi, Ingarikó e Patamona e que esses possuem atividades paralelas de acordo com cada cultura e tradição.
Assim, foram acordadas novas rodadas nos meses de junho e julho para o fechamento do cronograma de atividades e o restante do dia foi utilizado para o Pascoal conhecer possíveis fornecedores locais.
Também estava na agenda, uma visita ao Pólo Área de Voo que contempla 07 escolas que atendem crianças da etnia Ingarikó, inclusive a Serra do Sol. Esta parte da Expedição OMUNGA teve apoio do Professor Dones, responsável por este pólo.
Segundo Pascoal, há tempos ele não vivenciava um contato tão intenso num território. Foram quase 04 horas de deslocamento em caminhonete subindo e descendo morros, acompanhando e atravessando riachos, visitando famílias para vivenciar aquele contexto e, por vezes, avistando o Monte Roraima.
Ao chegar perto da Comunidade Serra do Sol, foi necessário utilizar um pequeno barco para atravessar um canal e na sequência, um pequeno trator levou os visitantes até o coração daquela comunidade.
Todos já aguardavam Roberto Pascoal numa área coberta na expectativa da entrega dos livros. Eram apenas 200 livros infantis que representavam uma amostra, um sinal de confiança do que estava por vir.
“Inevitavelmente, senti alguma ansiedade e até nervosismo, já que, era a primeira vez que eu visitava aquela comunidade. Todo respeito que sentimos pelos povos originários, nos faz ter muita atenção e cuidado em respeito a sua história, cultura e forma de pensar e agir.” Roberto Pascoal
Mas as apresentações foram tranquilas, Pascoal se sentiu bem acolhido e ele se surpreendeu em relação ao Tuxaua Woston, por ser novo. Tuxaua é o líder comunitário, uma espécie de cacique, como diriam nas escolas de antigamente. Além de Tuxaua, Woston também é professor dos anos iniciais.
Além de entregar os livros, Pascoal apresentou o Projeto OMUNGA no Monte Roraima e fortaleceu o pedido de engajamento dos professores daquela região Pois, acontecerão muitos momentos de escuta que serão fundamentais para as temáticas que serão trabalhadas durantes as oficinas..
Após todo deslocamento, recepção, almoço, uma circulação pela comunidade, chegou a hora de tomar banho (no rio) e dormir (em redes).
No outro dia, o objetivo foi chegar na Comunidade Indígena Karamampataiya. Esta parte do trajeto levaria dois dias caminhando em mata densa, acompanhada por irmãos Ingarikós. Mas, Roberto Pascoal foi agraciado com a gentileza de uma “carona” junto a um pequeno avião com capacidade para 10 lugares do Instituto Chico Mendes.
Foram aproximadamente 08 horas aguardando o pequeno avião chegar. Contudo, 02 dias de caminhadas foram transformados em 40 minutos de voo.
Algumas comunidades destas regiões possuem pistas de voo para garantir o abastecimento mais ágil de alimentos e todo tipo de insumos, além de cuidados médicos aos povos originários.
Chegar na primeira comunidade foi rápido. Além dos 40 minutos de voo, mais uns 30 minutos de caminhada e chegamos na Comunidade Indígena Karamampataiya. E de lá, era possível ver bem de perto o Monte Roraima.
No mesmo contexto, banho de rio, necessidades de ordem “fisiológica” no meio do mato, jantar e dormir em redes novamente e no outro dia, mais umas 05 horas de caminhada até chegar na Comunidade Indígena Mapaé.
Na manhã seguinte as coisas começaram a ficar mais densas com longas horas de caminhadas, mais rios para serem atravessados no ritmo dos Ingarikós, e vale ressaltar que eles mantinham um ritmo acelerado mesmo carregando alimentos, parte da bagagem do Pascoal e 01 caixa com a aproximadamente 25 kg de livros.
Após aproximadamente 06 horas de caminhada, considerando paradas, chegamos na Comunidade Indígena Mapaé para entregar os livros. Infelizmente, a maior parte das crianças estavam em outras atividades em comunidades vizinhas, mas foi possível ter uma noção da importância dos livros e o entusiasmo das crianças e dos pais.
Como, para retornar, seriam por volta de mais 08 horas, considerando deslocamento em barco e no rio, além de caminhadas na mata, todos optaram em dormir nesta comunidade e sair logo cedo para um longo dia de retorno.
Assim, no dia seguinte, iniciou-se uma nova jornada de caminhadas em mata fechada, rios com muitos obstáculos (pedras e árvores), caminhada em áreas descampadas, sem nenhuma sombra e com um sol pra lá de quente (aqui Roberto Pascoal teve que parar para um banho de rio, pois quase desmaiou, por conta do calor e do cansaço), cobras cruzando nosso caminho, as quais só os Ingarikós enxergavam (por isso, um ia na frente e outro no final e ambos orientando e protegendo o grupo) e quilômetros antes de chegar na Comunidade Serra do Sol, uma chuva torrencial dificultou a etapa final.
Por conta da forte chuva, um pequeno trator foi buscar os “desbravadores” na entrada da comunidade com um reboque, o que foi um alívio, especialmente para Roberto Pascoal, que vivia tal experiência pela primeira vez.
Como todos os rios no trajeto do centro urbano até a Serra do Sol estavam cheios, a caminhonete da Prefeitura não conseguiu chegar até lá e Roberto Pascoal teve que dormir mais uma noite naquela comunidade e só no outro dia, ainda com algum risco, foi possível deixar a Serra do Sol.
E a volta também foi longa. Foram 4,5 horas de deslocamento de caminhonete da Comunidade Serra do Sol até o centro urbano de Uiramutã e de Uiramutã até Boa vista, mais 06 horas de carro no mesmo dia.
Toda essa experiência vivida por Roberto Pascoal, reflete os desafios de milhares de professores que atuam nas regiões mais distantes e isoladas do Brasil.
Segundo Roberto Pascoal, já haviam motivos suficientes para elaborar e executar o Projeto OMUNGA no Monte Roraima, mas depois destes dias mais intensos, muito mais submerso a realidade de Uramutã e constatando situações que se repetem em tantas cidades do Brasil, o senso de dever e de responsabilidade só aumentou.
“Retorno desta Expedição OMUNGA com um profundo sentimento de humildade e de comprometimento com os professores de Uiramutã, pela forma que vivem e pelo que se submetem para desempenhar a missão de educar. O sentimento também se estende aos investidores e apoiadores que são alicerces de nossas iniciativas, somado a gratidão por fazerem da OMUNGA um instrumento de mudanças sociais para crianças e professores que vivem nestas condições”.
Agora, é planejar a primeira expedição de escuta do Projeto OMUNGA no Monte Roraima que envolve a criação de um cronograma de execução de todo projeto, composição da equipe de trabalho, iniciar a contextualização e preparação do time que fará parte da próxima expedição, elaborar as atividades de escuta que serão aplicadas aos professores de Uiramutã, monitorar e atualizar investidores, Governo Federal (lembrando que é um projeto viabilizado pela Lei de Incentivo à Cultura) e o poder público local, estruturar as estratégias de comunicação, estudar a logística, cada passo da próxima expedição e contratar os fornecedores necessários para a próxima ação de desbravamento pela educação e cultura.
Tudo isso, só deste projeto!
Imaginem que estas demandas se repetem nas outras iniciativas da OMUNGA, nos outros projetos.
Como diz o velho ditado: “Quem vê close (nos referindo às imagens que são publicadas em nossas redes sociais), não vê corre”.
Muito obrigado por terem acompanhado mais esta publicação do Projeto OMUNGA no Monte Roraima. Já, já tem mais!
Com muito carinho,
TIME de comunicação da OMUNGA!
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