Expedição OMUNGA: Novos territórios para novos projetos #02! Estamos em Melgaço!
A primeira cidade da Expedição OMUNGA foi mais marcante do que eu poderia imaginar.
Voltar a campo depois de meses confinados por conta da pandemia nos fez sentir gratidão e felicidade por não termos desistido nos tempos difíceis.
Quando estamos em campo, nos conectamos com nossa #omungasul, nosso espírito, nosso DNA, com o amor em motivar pessoas a ajudar mais pessoas e a levar mais educação para regiões distantes ou isoladas, onde poucas ou nenhuma organização social atua, além de inspirarmos pessoas.
A primeira cidade foco foi Melgaço, no interior do estado do Pará, considerada a cidade mais vulnerável do país, segundo o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal.
As observações e as legendas sobre os Indicadores Sociais estão no final do post.
Contudo, tal indicador foi perdendo o sentido e caindo no esquecimento por conta da abundância da biodiversidade, percebida desde a viagem de barco que iniciou em Belém, capital do Pará, com uma parada em Breves, cidade de escala, até chegar em Melgaço.
Foi uma viagem com pouco planejamento, pois a intenção era de sentir o lugar e que a jornada mostrasse os caminhos.
Já na chegada, a receptividade ficou marcada.
Ao passar pela primeira casa ao chegar em Melgaço, alguém me avistou e perguntou: “Não é daqui, né? Veio de onde? Há quanto tempo está viajando?”. Respondi que vinha do sul do país e que estava viajando há três dias. A resposta foi: “Deve estar cansado. Precisa de água, comida, uma cama?”. De imediato pensei: Essa cidade é especial.
Havia um contraste na estrutura das casas, ruas e praças com a natureza, que abraçava a cidade e aquelas pessoas.
Os dias foram passando e uma coleção de pequenas gentilezas foi sendo formada. Uma carona, informações sobre a cidade, a narrativa de uma lenda da região, uma camiseta lavada, companhia para ver o sol se pôr e conexões que ajudaram a entender a história, o contexto, a realidade da cidade.
Por meio de anúncios nas redes sociais publicados dias antes da expedição, direcionados somente para Melgaço, conseguimos engajar um pequeno grupo de professores para uma roda de conversa sobre OMUNGA, educação, história e contexto de Melgaço.
Percebeu-se um inquestionável senso de pertencimento que demonstrava que a felicidade se fazia presente ali. Ao mesmo tempo, relatos evidenciaram muita consciência sobre o contexto social vulnerável da cidade e que suas crianças precisavam e mereciam mais referências e caminhos para gozarem de uma vida com mais liberdade, autonomia e poder de escolha.
Andanças pelas ruas e pelas comunidades ribeirinhas da cidade, além de um pouco de iniciativa para fazer amigos, me fizeram conhecer agentes comunitários incríveis como a Dona Maria, o Senhor Patrício e a Professora Lia. Além de conversarmos muito sobre felicidade, fizeram questão de demonstrar o orgulho que sentem por viver em Melgaço e que o título de cidade mais pobre do Brasil não possui nenhuma relação com aquela comunidade.
“Aqueles números não traduzem o que somos, nossa cultura, nossa história e nossas potencialidades”, disse o Professor Adailson Leão.
Chegar dias antes das eleições municipais me fez sentir alguma insegurança, pois o foco dos agentes públicos estava na reeleição e isso me deixou com receio de que não haveria nenhum encontro formal com o poder público local. Meu prazo de permanência na cidade chegava ao fim e, até então, apenas cancelamentos e postergações.
Mas já na segunda-feira, um dia após as eleições, fui tomado por reuniões e encontros com professores, direção e coordenação pedagógica da cidade, além do encontro com o Secretário Municipal de Educação.
Antes de finalizar a apresentação, o Secretário de Educação sinalizou interesse em projetos da OMUNGA e se dispôs a participar com contrapartidas como terreno para construção de bibliotecas, contratação de bibliotecários(as), hospedagem e alimentação para nossa equipe durante as formações. Inclusive nos convidou para a formação de professores que deve acontecer em fevereiro/2021, para potencializarmos ações de escuta e conhecermos ainda mais a realidade da cidade e as percepções dos professores sobre educação e suas necessidades.
O Secretário também disponibilizou uma embarcação para que eu conhecesse escolas das zonas rurais, o que proporcionou mais rodas de conversas com outros agentes comunitários e professores. Esta é uma parte de nosso trabalho que eu gosto e que me emocionou MUITO!
A sensação de êxito e felicidade só não foi maior do que o desejo de continuar visitando mais cidades pelo Brasil, como Melgaço.
Em todas as rodas de conversas, em algum momento, falamos sobre felicidade e “o que realmente importa” em nossas vidas. Falamos também sobre a “simplificação da vida”, o que jamais deve ser confundido com conformismo, acomodação e falta de objetivos. O vitimismo também passou longe daqueles diálogos. Percebi que as questões que muitos buscam, inclusive eu, como felicidade, completude, tranquilidade, fé, segurança, amor à família e paz, se fazem presentes na cidade que já foi denominada (não por mim) como o “inferno do país”.
O que define a pobreza?
Quem são as pessoas realmente “pobres” de nossa sociedade?
O que torna uma pessoa “melhor” que a outra?
O que dignifica as pessoas?
Difícil será esquecer do prazer que senti ao ver crianças tomando banho no Rio Pará, ouvindo seus risos, ou estar no trapiche e ouvir o Senhor Valdecir dizer: “Posso sentar-me aqui para conversar um pouco?”.
A Expedição OMUNGA tem o objetivo de visitar cidades distantes ou isoladas, indicadas como as mais vulneráveis do país, para potencializar novos projetos da OMUNGA Grife Social e Instituto. Os projetos da OMUNGA consistem na construção de bibliotecas e na realização de formações continuadas de professores em cidades do mesmo contexto dos municípios que são foco dessa expedição.
O relato foi baseado em minha experiência de modo muito particular. Mas desejo que outros visitantes tenham a mesma experiência que tive. Dignificando aquelas pessoas, não como as mais pobres do Brasil, mas como pessoas acolhedoras, solidárias, resilientes a desafios, respeitosas e como guias para reflexões sobre valores, posturas, comportamentos, felicidade e o que “realmente importa”. Espelhos daquilo que, particularmente, acredito que seja o que o mundo precisa.
Melgaço é uma das cidades mais “ricas” que já conheci.
Obrigado por visitarem nosso blog.
Se você desejar fazer parte desta e de outras jornadas, acesse a sessão “Faça Parte” de nosso site ou clique aqui e faça parte do OMUNGA Clube. Um clube de assinaturas para quem deseja levar mais educação para o Brasil e viver verdadeiras experiências sociais.
Um forte abraço com carinho e gratidão,
Roberto Pascoal
Empreendedor Social e Fundador da OMUNGA Grife Social e Instituto
[email protected]
Sobre os Indicadores Sociais:
(1) Cidades visitadas durante a Expedição OMUNGA 2020-2021.
(2) O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) considera três dimensões básicas do desenvolvimento humano: renda, educação e saúde. Os números são apresentados em forma de ranking entre os 5565 municípios brasileiros.
(3) O Índice de Vulnerabilidade Social (IVS) considera três dimensões básicas do desenvolvimento humano: infraestrutura urbana, capital humano, trabalho e renda. Quanto mais próximo de um, maior a vulnerabilidade.
(4) O Índice de Desenvolvimento Básico da Educação (IDEB) é o indicador criado pelo governo federal para medir a qualidade do ensino nas escolas públicas, com nota de 10 (melhor) a zero (pior). Os campos sem registros representam cidades com número de participantes no SAEB (Sistema de Avaliação da Educação Básica) insuficiente para que os resultados sejam divulgados ou que não participaram ou não atenderam os requisitos necessários para ter o desempenho calculado. Pode ter ocorrido também solicitação de não divulgação, conforme Portaria Inep.
(5) As cidades de Uiramutã (RR) e Chaves (PA), se apresentam na mesma posição, pois estão em empate no IDHM.