Expedição do Projeto OMUNGA no Monte Roraima | 1° Ciclo | abril/24


A execução do 1º Ciclo de Desenvolvimento de Professores do Projeto OMUNGA no Monte Roraima foi um marco na história da OMUNGA.
Pois, representou o início das atividades em campo deste novo projeto que é o quarto da OMUNGA e o segundo viabilizado pela Lei de Incentivo à Cultura.
Se passaram quase 04 anos, desde que Roberto Pascoal, Empreendedor Social e Fundador da OMUNGA realizou uma Expedição pelas 10 cidades mais distantes e vulneráveis do Brasil e entre elas, conheceu Uiramutã. Era novembro de 2020.
Desde então, todo time da OMUNGA percorreu uma longa jornada para escrever o projeto, aprovar junto a Secretaria Especial da Cultura na época, hoje, Ministério da Cultura e engajar investidores.
Em paralelo, foram realizadas outras Expedições para vivenciarmos momentos de escuta com professores, lideranças dos povos originários (Macuxi, Ingarikó e Patamona) e com o poder público municipal de Uiramutã, além da Organização de Professores Indígenas de Roraima (OPIRR) e a Universidade Federal de Roraima, por conta de sua atuação em cursos que atendem os povos originários de inúmeras regiões.

Sempre com o objetivo de respeitar a história, a cultura e o contexto deste território para que o Projeto OMUNGA no Monte Roraima faça real sentido para toda comunidade.
Pois, como disse um Tuxaua (liderança tradicional) num dos momentos de escuta: “o projeto deve ser de dentro para fora e não de onde vocês vêm para dentro de Uiramutã”.
E, por fim, colocar em prática tudo que aprendemos desde a fundação da OMUNGA (2013).
Para saber mais sobre o Projeto OMUNGA no Monte Roraima e outras expedições para Uiramutã, clique aqui.
O objetivo deste 1º Ciclo, foi realizar momentos de escuta com um número maior de educadores para consolidar tudo o que havia sido ouvido e construindo desde a primeira Expedição a Uiramutã.
Para esta Expedição, criamos um time multidisciplinar de mediadores para potencializar uma escuta ativa, sensível e empática, tendo como ponto de atenção principal as demandas e anseios dos professores de Uiramutã no âmbito da cultura e da literatura. Também contamos com um time de foto, vídeo e gestão executiva que fizeram toda diferença em nosso trabalho.

São eles:
Roberto Pascoal – Empreendedor Social, Fundador e Diretor Geral do Projeto OMUNGA no Monte Roraima
Daniel Machado – Coordenador Cultural e Fotógrafo
Roy Schulenburg – Produtor Executvio
Chilenus – Videomaker e Pesquisador
Marina Pedrosa – Professora e Mediadora
Monique Campos – Facilitadora Sistêmica e Mediadora
Pedro Leite – Jornalista e Mediador
Vera Lucia Cavalheiro – Professora e Mediadora
Viviane Araújo – Consultora de Diversidade e Inclusão e Mediadora
Foram semanas de preparo com longas reuniões em que foram compartilhadas informações sobre Uiramutã/RR com bases nas vivências anteriores da OMUNGA neste território e na participação de membros da comunidade escolar da cidade, por meio de chamadas de vídeo.
Cada mediador, ficou responsável pela criação de uma oficina e cada uma delas, deveria responder uma das 04 perguntas norteadores:
Oficina 1:
Pergunta norteadora: Quem são os/as alunos(as) de Uiramutã?
Mediadora: @viviane_dearaujo

Oficina 2:
Pergunta norteadora: Quem são os/as professores(as) de Uiramutã?
Mediadora: @veralucia.cavalheiro.794

Oficina 3:
Pergunta norteadora: Como a leitura faz parte do dia a dia escolar em Uiramutã?
Mediadora: @marinalopesppoladian

Oficina 4:
Pergunta norteadora: A cultura local é utilizada em atividades pedagógicas?
Mediador: @pedroleitesc
A mecânica das oficinas aconteceria com a divisão dos 200 professores da rede pública de Uiramutã (responsáveis por aproximadamente 2.000 alunos) em 04 grupos e as oficinas aconteceriam em rodízio. No final, todos os professores teriam participado das 04 oficinas. Cada oficina com duração de 04 horas.
A metodologia envolveu atividades dialógicas, expositiva e práticas (tal como rodas de conversas, dinâmica em grupo, apresentação de filmes, leitura de livros, ações para potencializar sentidos – música, cheiros, elementos da natureza – resgate de lendas e memórias, exercícios de escrita e desenho, visando a real participação de todos os envolvidos.

Como resultado, visamos a criação de um cenário mais favorável para que os Professores se sintam mais sensíveis e fortalecidos em sua autorresponsabilidade enquanto agente de transformação social no âmbito da cultura e da educação. Em paralelo, coleta de informações e percepções que possam aprimorar a execução dos próximos ciclos.
Com todos esses alinhamentos chegou a hora de embarcar.
Veja nossa programação inicial:
✈ 20/04 (sáb): Início dos deslocamentos para Boa Vista/RR. Almoço por volta das 13h00, integração do time às 18h00 e jantar às 20h00, no próprio hotel em que pernoitamos em Boa Vista/RR.
🚤 21/04 (dom): Às 07h00, partida de ônibus para o trajeto entre Boa Vista e Uiramutã.
🛖 22/04 (seg): Dia de integração na Comunidade Willimon da etnia Macuxi e no final de tarde, reunião de alinhamento com integrantes da Secretaria Municipal de Educação de Uiramutã;
🛖 23/04 (ter): Momento de escuta com Coordenadores Pedagógicos de Uiramutã e revisão das atividades de oficina, tendo como base os momentos de escutas realizados até então.
💥 24/09 (qua): Na parte da manhã, abertura o 1º Ciclo de Desenvolvimento de Professores do Projeto OMUNGA no Monte Roraima e na parte da tarde, 1ª rodada de oficinas. Às 18h reunião de avaliação de resultados.
❤ 25/04 (qui): Manhã e tarde de oficinas. Às 18h reunião de avaliação de resultados.
🤝 26/04 (sex): Manhã de atividade coletiva e a tarde foi encerramento do ciclo. À noite, jantar com time da Secretaria de Educação.
🫂30/09 (sáb): Início de retorno com saída de Uiramutã às 07h.
1º/10 (dom): Chegada nas cidades de cada integrante! Fim da Expedição.
Até que… praticamente 24 horas antes de nosso time sair de suas respectivas cidades (Florianópolis/SC, Joinville/SC, Curitiba/PR e São Paulo/SP), a mediadora Monique Campos apresentou fortes sintomas de dengue. Imediatamente ela foi acolhida por sua família e contou com os melhores cuidados médicos.
Foi um momento difícil. Pois, a Monique foi seleciona por conta de sua experiência em outras Expedições da OMUNGA no Sertão do Piauí e na Amazônia, e como mediadora sistêmica, participou de todas as atividades de preparação de oficina e teria um papel importante na composição das habilidades do time de mediadores.

No entanto, não tínhamos outra escolha a não ser aceitar a situação, enviar as melhores energias para a Monique e buscar uma outra mediadora, faltando em torno de 12 horas para a Expedição começar.
Mas eis que Viviane Araujo aceitou o desafio. Viviane havia participado da última expedição da OMUNGA na Amazônia, é especialista em diversidade e inclusão e não resistiu a oportunidade de experienciar vivências junto aos povos originários de Uiramutã (Macuxi, Patamona e Ingarikó) e seus professores.
Assim, partimos para Boa Vista/RR, capital de Roraima na madrugada de sexta-feira para sábado (19/04 para 20/04) e os perrengues insistiam em nos acompanhar.

O voo da mediadora Marina não pousou em Boa Vista/RR e sim em Manaus/AM e foi necessária uma operação de resgate para trazê-la até o grupo.
Mas seguimos…
Ainda em Boa Vista/RR, recebemos as lideranças da Organização dos Professores Indígenas de Roraima (OPIRR) que nos proporcionaram uma profunda reflexão sobre a educação indígena dentro das especificidades de suas culturas e como ocorreu (e ainda ocorre) a integração de alunos e professores, junto aos parâmetros da educação dita como “formal”.
O diálogo nos deixou mais sensíveis para a desconstrução de saberes e certezas, criando uma atmosfera, mais aberta a escuta ativa. Todos foram dormir reflexivos e mais cientes de sua responsabilidade.

Para o Coordenador Cultural e Fotógrafo da OMUNGA Daniel Machado, “dialogar com lideranças que nasceram e viveram neste território, potencializa um saber autêntico sobre o senso de valor dos povos originários e as demandas na área da educação e da cultura”.
O dia seguinte, domingo, 21/04, foi marcado por um longo trecho de viagem de ônibus entre Boa Vista, e Uiramutã que fica na divisa com Guiana e Venezuela.
Foram 08h para percorrer 315 km em função das condições das estradas e tantas paradas.

Para Pascoal, “Esta viagem é uma imersão ao modo de vida local. Um deslocamento comum para ter acesso aos maiores centros. Também é uma boa oportunidade para observar e conversar com pessoas, apreciar o relevo plano, com muitos rios e casas de adobe, coisas incomuns para o time da OMUNGA.”
Agora, diferente de outras ocasiões, foi tudo bem tranquilo. O ônibus estava, relativamente, vazio, o que fez com que as cargas e as paradas fossem reduzidas. Em outras ocasiões, havia até “carga viva” no corredor do ônibus (saco com galinhas). E a surpresa foi um ar-condicionado eficiente, e até mesmo internet no ônibus.
Ao chegar em Uiramutã foi só banho, jantar “alguma coisa” e ir para a cama, pois, o próximo dia prometia mais emoções.
No 1º dia em Uiramutã, o time visitou a Comunidade Willimon da etnia Macuxi.
A recepção foi memorável. Todos foram recebidos com rituais de acolhimento, proteção e purificação, com cantos, danças de braços dados e falas fortes, as quais resultaram num momento de comunhão.

Presenciamos crianças e adolescentes com posturas imponentes que representavam a proteção de sua cultura e da floresta. “Parecem que já nascem guerreiros” disse Pedro Leite.
Conhecemos a estrutura social e a cultura dos Macuxi, que por si só, já é uma escola. “Quando um aluno aprende a fazer uma panela de barro, ele estuda física, química, geografia, história e a nossa cultura”, disse a professora Ernestina.
Outro ponto marcante foi a “damorida comunitária” ou almoço coletivo, onde ouvimos o Tuxaua Jacinaldo da Silva, sobre as lutas de preservação, formação de líderes e sobre a proteção de sua cultura.

Por fim, num diálogo com professores, ouvimos sobre a importância da literatura indígena e como nosso projeto pode auxiliar na preservação de memórias.
Foi um incrível momento de escuta que aguçou nosso senso de responsabilidade e o desejo em contribuir no registro da cultura Macuxi.
No 2º dia em Uiramutã, realizamos mais uma roda de conversas agora com outros Professores e com a Secretária Adjunta de Educação, Tereza Pereira de Souza, coordenadores pedagógicos e professores que compartilharam a sua realidade num contexto mais amplo, abrangendo todas as etnias.

Durante o diálogo, percebemos que as demandas apresentadas por professores de diferentes localidades e etnias de Uiramutã foram se encontrando. Ouvimos mais falas sobre a necessidade de registrar a cultura das diferentes etnias da cidade.
E com tantos diálogos, foi necessário um bom tempo para revisar cada oficina, seus objetivos, além de aprimorar ou adaptar algumas atividades.
O 3º dia iniciou com uma chuva torrencial e nossa programação sofreu ajustes, e como disse a Secretária Adjunta de Educação, professora Tereza Pereira de Souza que faz parte da etnia Macuxi: “Esse é o tempo da chuva e não o tempo de vocês. Respeitem a chuva e o seu tempo.”
E assim foi.
Contudo, um encontro inesperado no café da manhã com as professoras @simonekira e @catarinapadilha da Universidade Federal de Roraima que estavam de passagem por Uiramutã, fez surgir um diálogo sobre as maneiras respeitosas para nos relacionarmos com os professores indígenas.
A chuva acertou em nos proporcionar aquele tempo!
Na parte da tarde, retomamos a programação, e cantos, danças e o lançamento de iniciativas da Universidade Federal, juntamente com a abertura do 1º Ciclo de Desenvolvimento de Professores do Projeto OMUNGA no Monte Roraima aconteceram durante todo período.

O Secretário de Educação, Damásio Gomes e muitas autoridades, além dos integrantes do time da OMUNGA e da Secretaria de Educação da cidade estavam presentes.
A mediadora Vera Lucia evocou a interculturalidade ao cantar “Tocando em Frente” e a Marina Pedrosa destacou a importâncias dos livros para preservação de memórias.

O 3º e 4º dia em Uiramutã foram de oficinas.
Alguns receios naturais fizeram parte desses dias, pois, era a primeira vez que atuávamos numa cidade onde mais de 90% da população é formada pelos povos originários.
Adequação de linguagem, postura, ritmo, muitos exemplos utilizados e atenção redobrada na percepção dos retornos que os professores ofereciam, após as falas e atividades dos mediadores.
Era comum, os mediadores pensarem e refletirem: Será que é isso mesmo? Será que está fazendo sentido para eles? Será que a comunicação está sendo eficaz?
Mas com o passar do tempo, percebeu-se que estávamos conquistando a entrega dos professores participantes em cada atividade e em paralelo, a atuação de mediação, criou um ambiente de liberdade para todo tipo de manifestação alusiva a cultura e a formação de leitores.

Os professores manifestaram sua cultura, por meio das artes plásticas, música, dança, culinária, lendas e memórias. Eles também trouxeram evidências do que o Professor José Valdo e a Professora Ernestina compartilharam em nosso primeiro dia em Uiramutã: “A cultura já está presente na sala de aula, mas pode ser ainda mais disseminada, valorizada e cultivada. Pois, todo professor é uma escola viva. Todo ancião é uma biblioteca viva e quando um ancião se vai, um livro se fecha para sempre”.
A mediadora Marina, numa reunião de avaliação de oficinas que acontecia no final de cada dia disse que: “Parece que cada professor tem uma história entalada na garganta que precisar ser ecoada, registrada, por meio de um livro”.
Livros didáticos, de memórias, tradições, sobre a história de lideranças, seus ancestrais, sobre a natureza daquele território, receitas culinárias, sobre a história da cidade, sobre as diferentes etnias de seus povos originários, como também sobre suas lutas e tantos outros assuntos sensíveis a eles.

A predominância da oralidade em Uiramutã, enaltece agora a importância do registro para a perpetuação de sua cultura.
Todos querem escrever um livro! Todos querem ensinar seus alunos a serem escritores.
Que campo fértil para a OMUNGA!
Nestes dias, percebemos um senso de pertencimento a terra, uma elevada autoestima cultural, tantas dores por conta das lutas relacionadas ao direito da dignidade e da existência, a força para continuar lutando, o desejo de formar novos líderes e o desejo de se sentirem ouvidos.
Nossos mediadores, como já era sabido, não estava lá para ensinar, apenas mediar. Toda fala, relato, desejo e ideia, foi se transformando em possíveis iniciativas para a sala de aula.

Do mesmo modo, fomos descobrindo as potencias das crianças, a esperança dos professores, a força da cultura daquele território e o livro como instrumento para atingir esses objetivos.
No final dos dias de oficina, sentimos também um forte senso de responsabilidade.
Naqueles dias, ouvimos que há décadas, jornalistas, pesquisadores, especuladores, empresários, políticos visitam a cidade, as comunidades dos povos originários e tentam, inclusive, acessar seus territórios sagrados em busca de informações por diferentes motivos.
Porém, é raro voltarem ou nunca mais voltar para apresentar a forma como tais informações foram usadas e a repetição disso, fez com que muitos em Uiramutã, se tornassem mais reservados e seletivos.
Saber disso só nos fez nos sentirmos mais honrados.

As oficinas terminaram na sexta-feira no melhor clima de acolhimento possível.
Nem a caça anual da formiga tanajura (ela serve de alimentação frita, assada ou cozida) que sai do ninho na primeira chuva do ano, proporcionando um breve período de caça que aconteceu naqueles dias e nem a “virose do viajante”, com a qual o Chilenus foi acometido com longos períodos de diarreia e vômitos, tirou o ritmo da Expedição.
No 5º e último dia em Uiramutã, ouvíamos dos mediadores palavras como aceitação, significativo, impacto, gratidão, descoberta de si mesmo, felicidade, utilidade.
Da parte dos professores, como é possível ver nas imagens abaixo, foi possível constatar que o respeito empregado por nós, foi notado e com a mesma intensidade, o desejo de continuidade.

Agora, com todas as informações coletadas nas oficinas, na avaliação de resultados, nos diálogos com os profissionais da Secretaria de Educação de Uiramutã, nos preparamos para os próximos 05 ciclos que deverão acontecer ao longo de dois anos de projeto.
O Projeto OMUNGA no Monte Roraima contempla 06 ciclos de atividades educativo-culturais para todos os professores da rede pública de Uiramutã, em dois anos, sendo três ciclos a cada ano. Também está prevista a distribuição de livros nas escolas municipais da cidade, a produção de material audiovisual de média metragem apresentando a execução do projeto e a elaboração de um livro retratando as riquezas culturais de Uiramutã ,através do olhar da comunidade escolar. E, por fim, viabilizar a construção da primeira biblioteca da cidade, sendo contrapartida da OMUNGA.

Agradecemos, principalmente, toda comunidade escolar de Uiramutã, considerando tanto o poder público quanto as lideranças de seus povos originários, os professores, nossos doadores, assinantes, parceiros e aos investidores.
O Projeto OMUNGA no Monte Roraima é a segunda iniciativa da OMUNGA viabilizada por meio da Lei de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet). Acesso o link a bio.
Uma realização da OMUNGA, em parceria com a Governo Federal, por meio do Ministério da Cultura e o patrocínio da Bayer Brasil, WEG e Deloitte Brasil.
Muito obrigado por visitar o nosso blog e até a próxima!
Com carinho, respeito e gratidão,
Time de Comunicação da OMUNGA

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